30/05/2010

A paz mundial e o diálogo inter-religioso:


o   Ecumenismo: processo de busca da unidade; esforços para unificar as Igrejas cristãs, as religiões em geral e a humanidade; tentativa de superação das divisões e das diferenças.
o   «Em última análise, o objectivo da religião é desenvolver o amor, a compaixão, a tolerância, a humildade e o perdão (…) Se não implementarmos estas qualidades na nossa vida diária, o facto de sermos pertencentes fervorosos da nossa religião será estéril.» Dalai Lama
o   Somos responsáveis por aquilo que fazemos com o nosso futuro e por aquilo que deixamos às gerações vindouras… «Age de tal maneira que os efeitos da tua acção não sejam destruidores da futura possibilidade da vida humana sobre a Terra.»  Hans Jonas
o    «As religiões são caminhos de Deus para o homem e do homem para Deus. Os caminhos são muitos, e todos, desde que sejam a favor do homem, levam a Deus. As religiões são relativas no duplo sentido de relativo: condicionadas histórico-culturalmente e referidas ao Absoluto. São mediações, e só na plenitude de consumação da história se manifestará a verdade toda. Entretanto, enquanto não chega a plenitude, impõe-se o respeito mútuo, o diálogo sincero e, sobretudo, o combate comum pela dignidade, pela justiça e pela paz a favor de todos os homens que são irmãos. É uma vergonha para a humanidade e para as religiões que os homens continuem a matar--se em nome de Deus.» Anselmo Borges
o   «Há que romper a vinculação entre religião e violência, a legitimação da morte em nome de Deus. (...) O zelo por Deus não pode tornar-se em maldição para o homem, como frequentemente acontece com as pessoas religiosas. Por isso caem na cilada de, em nome de Deus, perseguir os homens que deveriam libertar -tal como ocorre com as guerras santas, cruzadas e inquisições que mostram a enorme capacidade destrutiva da religião. A preocupação pela glória de Deus por parte dos fiéis e piedosos converte-se, assim, em maldição para o homem: o infiel, o pagão ou o herege. É preferível não praticar a religião e amar o ser humano do que o inverso. Por isso o Holocausto é o anti-Deus. Há que preferir o ateu comprometido com o ser humano ao homem religioso não solidário com o próximo.» J. A. Estrada

O que é ser tolerante?



1.      O que é ser tolerante?
§  Etimologicamente, a palavra tem ligações com dois verbos em Latim:

Tollere
Tollerare

  Foi esta a conotação que mais se vulgarizou.          
Logo, a tolerância é vulgarmente entendida como estando relacionada com o acto de suportar algo de forma paciente e passiva

Significa levantar, educar, levar

+ activo
Significa suportar, manter, aliviar

+ passivo

No entanto, talvez seja mais enriquecedor entender a tolerância como um processo activo que se baseia no diálogo, no respeito e nos princípios da liberdade, igualdade e reciprocidade, visando a obtenção de um consenso.
§  Ser tolerante …
Não é…
É…
§  ser indiferente
§  ser relativista
§  aguentar/suportar algo que consideramos mau ou errado (por exemplo, tolerar um insulto)
§  ser fraco intelectualmente
§  ser condescendente
§  ser superior
§  renunciar  às nossas convicções
§  ser céptico
§  ter a disposição para admitir nos outros uma maneira de ser, agir e pensar diferente da nossa, especialmente em questões morais e religiosas
§  considerar que o facto de os outros professarem uma fé diferente não significa que eles sejam inferiores
§  ter respeito pelos outros
§  reconhecer que o facto de sermos seres humanos está acima de todas as diferenças
§  uma posição que nasce da reflexão e da admissão de valores universais como a dignidade humana

§  Ser tolerante é o oposto de ser fundamentalista.
§  Fundamentalismo: movimentos ou grupos extremistas e fanáticos que surgem no seio de uma religião.
§  Os fundamentalistas…
o   consideram que, no plano religioso, há uma única verdade suprema e absoluta.
o   recusam que os outros credos religiosos possam contribuir, de alguma forma, para a verdade.
o   consideram que as outras religiões são falsas, perversas, indignas e intoleráveis.
o   consideram que é na tradição é que está a verdade, sendo esta imutável
o   anseiam por um retorno a essa tradição, um recuperar de todos os fundamentos da sua religião, tal como eles estão descritos nos textos sagrados.
o   rejeitam os valores do mundo moderno e as ideias da ciência.
o   defendem Estados Teocráticos.
o   dizem não ao diálogo inter-religioso

A dupla dimensão da experiência religiosa


«Se ao abordarmos a experiência religiosa nos perguntarmos, por exemplo, o que é que experimenta um japonês, em viagem pela Europa, no interior de Portugal, face à religião cristã ali dominante, sem dúvida que teremos de enumerar muitas coisas. Verá um país marcado pelo Cristianismo: igrejas com torres que se destacam no conjunto das aldeias, mosteiros enormes, capelas, cemitérios cheios de cruzes [...]. Tropeçará com procissões e com pessoas que enfeitam os túmulos com flores, que acendem velas diante de estátuas e quadros; verá igualmente como as pessoas se reúnem nas igrejas em determinados dias. Ali encontrará homens que se distinguem dos restantes pelas vestes. Escutará leituras, orações e cânticos,  cheirará o perfume do incenso queimado. Numa palavra, perceberá a religião como algo que se pode ver, ouvir, ar e cheirar. A religião é uma realidade que se incarna em edifícios e objectos, na actuação individual e social bem como em manifestações de carácter artístico e cultural.
Contudo, esta descrição externa não é suficiente para compreender aquilo de que aqui se trata. Porque não é possível descobrir, de modo algum, essas actividades externas como manifestações religiosas sem ter em conta o sentimento interior que leva os homens a esse comportamento sem apreender, por sua vez, a motivação de tal actividade e a sua importância para as pessoas que as executam, ainda que isso só seja possível de uma maneira indirecta. A religião externamente perceptível é essencial para que se possa considerar como "expressão", "manifestação de algo mais”. Toda a actividade religiosa exterior é sustentada por uma determinada disposição interior. Assim, a religião tem uma dimensão externa objectiva, e outra, subjectiva e interior. Esta última representa uma atitude humana existencial, com a qual se afirma a relação e a dependência face a uma realidade divina supra-humana, supra-sensível e supramundana com todas as suas consequências para a própria vida.»
Josef Schmitz, Filosofia de Ia Religión, pp. 39-40

14/05/2010

Dimensões pessoal/individual e social da religião


«A dimensão individual da religião diz respeito ao modo como o ser humano vive, no seu íntimo, a relação com o Sagrado. A dimensão social significa que a religião não se reduz a uma vivência emotiva. Manifesta-se em doutrinas, em textos sagrados e em diversos rituais, cerimónias e festas.»Einstein

O sagrado e o profano

«Para o Homem religioso, o espaço não é homogéneo: apresenta roturas, quebras; há porções de espaço qualitativamente diferentes das outras. "Não te aproximes daqui, disse o Senhor a Moisés, descalça as sandálias; porque o lugar onde te encontras é uma terra sagrada" (Êxodo, 111,5). (...)
A fim de pôr em evidência a não-homogeneidade do espaço, tal qual ela é vivida pelo Homem religioso, pode fazer-se apelo a qualquer religião. Escolhamos um exemplo que está ao alcance de toda a gente: uma igreja, numa cidade moderna. Para um crente, esta igreja participa de um espaço diferente na rua onde se encontra, ela está repleta de hierofanias. A porta que se abre para o interior da igreja significa de facto uma solução de continuidade. O limiar que separa os dois espaços indica ao mesmo tempo a distância entre os dois modos de ser, profano e sagrado
Mircea Eliade, O sagrado e o profano (adaptado)

Análise da experiência religiosa

- Tal como temos vindo a fazer nos temas anteriores, a abordagem da temática da religião será feita, não com o objectivo de dar uma resposta taxativa para as questões mas sobretudo, de modo a que todos possamos reflectir mais conscientemente sobre as crenças que naturalmente já possuímos.
- Quando falamos de religião, é inevitável falar na sua:
o    Universalidade
§  A maioria dos autores defende que a religião é um fenómeno universal, ou seja, onde quer que haja uma sociedade humana, há a tendência para a experiência religiosa.
§  Mas por que razão o homem é, na sua generalidade, um ser religioso?
·         A religião surge como necessidade de explicar fenómenos inexplicáveis
·         A religião como fonte de regras e normas sociais – como forma de legitimar a ordem e a harmonia sociais (nas sociedades laicas, esta razão é já obsoleta, mas nas sociedades em que ainda não há uma separação entre a Igreja e o Estado, este aspecto é ainda hoje em dia muito pertinente)
·         A religião como forma de superar as nossas limitações
o    Homem como ser limitado naquilo que faz, naquilo que sabe, naquilo que é
o    A vida confronta-nos com situações-limite, as quais não podemos transpor, alterar (morte, sofrimento, acaso, culpa, etc). Muitas vezes, quando o ser humano se vê confrontado com estas situações, com a sua finitude e contingência, fragilidade e precariedade da sua existência, então dá-se uma abertura a um novo tipo de experiência que intenta dar um sentido a essas situações limite, torná-las suportáveis, dá-se aí uma abertura à transcendência.
o    Diversidade
§  Se é verdade que a religião é um fenómeno universal, também não podemos negar que é um fenómeno multiforme, cheio de diversidade.
§  O que é que as religiões têm em comum?
·         Etimologia da palavra:
o    relegere – prestar culto, homenagem
o    religare – religar, tornar a juntar
o    As religiões têm em comum a ideia de sagrado ( profano)/transcendência (imanência)
·         Sagrado - algo que merece veneração ou respeito religioso por ter uma associação com uma divindade ou com coisas divinas
·         Ao fenómeno pelo qual o sagrado, a transcendência se manifesta no mundo quotidiano, chamamos de hierofania (conceito paradoxal, contraditório: numa hierofania, o objecto considerado sagrado é, ao mesmo tempo, um objecto normal e não o é, aos olhos de um crente).
·           Qualquer religião é composta por:
o    uma dimensão pessoal, que diz respeito ao indivíduo em particular, à sua própria experiência intima e compromissos individuais; é assim, vivida de forma diferente por cada um dos indivíduos (ref. à experiência mística – relação directa com o sagrado; de acordo com alguns autores estas experiências são o que está na origem da religião)
·         uma dimensão social que se reflecte:
o    num conjunto de crenças partilhadas, num culto – manifestações sociais de celebração da fé
num conjunto de normas e regras, numa organização/instituição
Para que serve a dimensão social da religião?
·         para assegurar estabilidade
·         para garantir a identidade da religião; as fontes da religião são as mesmas (textos sagrados, dogmas básicos, mitos, crenças)
·         para regular a vida moral dos crentes
·         Muitos autores consideram que a religião é o elemento aglutinador de uma sociedade, cultura ou civilização.

Análise da experiência religiosa

Clique aqui para consultar o powerpoint sobre este tema:
https://docs.google.com/fileview?id=0B7yHPIYu4ZPTYjkwYzNkNmUtZmEwZC00ZGQxLWJlMTktZjlmY2ZmZTBkYjNk&hl=pt_PT

A desobediência civil - é moralmente aceitável infringir a lei?


  A desobediência civil - Nigel Warburton

«Algumas pessoas argumentam que a violação da lei nunca se pode justificar: se não estamos satisfeitos com a lei, devemos tentar mudá-la através dos meios legais, como as campanhas, a redacção de cartas, etc. Mas há casos em que tais protestos legais são completamente inúteis. Há uma tradição de violação da lei em tais circunstâncias conhecida por desobediência civil. A ocasião para a desobediência civil emerge quando as pessoas descobrem que lhes é pedido que obedeçam a leis ou a políticas governamentais que consideram injustas.
A desobediência civil trouxe mudanças importantes no direito e na governação. Um exemplo famoso é o movimento das sufragistas britânicas, que conseguiu publicitar o seu objectivo de dar o voto às mulheres através de uma campanha de desobediência civil pública que incluía o auto-acorrentamento das manifestantes. A emancipação limitada foi finalmente alcançada em 1918, quando foi permitido o voto às mulheres com mais de 30 anos, em parte devido ao impacte da primeira guerra mundial. No entanto, o movimento das sufragistas desempenhou um papel significativo na mudança da lei injusta que impedia as mulheres de participar em eleições supostamente democráticas.
Mahatma Gandi e Martin Luther King foram ambos defensores apaixonados da desobediência civil. Gandi influenciou decisivamente a independência indiana através do protesto ilegal não violento, que acacbou por conduzir ao fim da soberania britânica na Índia; o desafio de Martin Luther King ao preconceito racial através de métodos análogos ajudou a garantir direitos civis básicos para os Negros americanos nos estados americanos do Sul.
Outro exemplo de desobediência civil está patente na recusa de alguns americanos em participarem na Guerra do Vietname, apesar de serem requisitados pelo governo. Alguns americanos justificaram esta atitude afirmando acreditar que matar é moralmente errado, pensando por isso que era mais importante violar a lei do que lutar e possivelmente matar outros seres humanos. Outros havia que não objectavam a todas as guerras, mas sentiam que a guerra do Vietname era injusta e que sujeitava os civis a grandes riscos, sem nenhuma boa razão. A dimensão da oposição à guerra do Vietname acabou por conduzir os Estados Unidos à retirada. Sem dúvida que a violação pública da lei aumentou esta oposição.
A desobediência civil corresponde a uma tradição de violação não violenta e pública da lei, concebida para chamar a atenção para leis ou políticas injustas. Os que agem nesta tradição de desobediência civil não violam a lei unicamente para seu benefício pessoal; fazem-no para chamar a atenção para uma lei injusta ou para uma política moralmente objectável e para publicitar ao máximo a sua causa. Por isso é que estes protestos ocorrem habitualmente em lugares públicos, de preferência na presença de jornalistas, fotógrafos e câmaras de televisão. Por exemplo, um americano chamado para a guerra que deitasse fora a sua convocatória durante a Guerra do Vietname, escondendo-se de seguida do exército só por ter medo de ir para a guerra e por não querer morrer, não estaria a executar um acto de desobediência civil. Seria um acto de autopreservação. Se agisse da mesma maneira, não por causa da sua segurança pessoal, mas por motivos morais, mas que no entanto o fizesse em segredo, não tornando público este caso de nenhuma forma, continuaria a não poder considerar-se um acto de desobediência civil. Pelo contrário, outro americano convocado para a guerra que quimasse a sua convocatória em público perante câmaras de televisão, comunicando ao mesmo tempo à imprensa as razões que o levavam a pensar que o envolvimento americano no Vietname era imoral, estaria a cometer um acto de desobediência civil.
O objectivo da desobediência civil é, em última análise, mudar leis e políticas particulares, e não arruinar completamente o estado de direito. Os que agem na tradição da desobediência civil evitam geralmente todos os tipos de violência, não apenas porque pode arruinar a sua causa ao encorajar a retaliação, conduzindo assim a um agravamento do conflito, mas sobretudo porque a sua justificação para violar a lei é moral, e a maior parte dos princípios morais só permite que se prejudique outras pessoas em situações extremas, tal como quando somos atacados e temos de nos defender.
Os terroristas ou os combatentes pela liberdade ( a maneira como lhes chamamos depende da simpatia que temos pelos sues objectivos) usam actos violentos com fins políticos. Tal como os que enveredam por actos de desobediência civil, também eles desejam mudar os estado de coisas existente, não para benefícios privados, mas para o bem geral, tal como este é por eles concebido; mas diferem nos métodos que estão preparados para usar para originar a mudança desejada.»

Nigel Warburton
Tradução de Desidério Murcho
Elementos Básicos de Filosofia, Gradiva, Lisboa, 1998, pp. 132-135

Filme "Equilibrium" - questões para reflectir...





Basta reflectir um pouco sobre a história humana, para concluir que um dos maiores males que afecta a humanidade é a desumanidade… Como resolver este problema? Será possível acabar com as guerras? Até que ponto é que um Estado poderá aplicar a sua força para aniquilar os males que existem no mundo?
No filme Equilibrium, Prozium é a droga maravilha que o estado concebeu para que os seres humanos deixassem de sofrer. Uma vez que a emoção é vista como um todo, a abolição das emoções negativas implicou necessariamente o aniquilamento das emoções positivas… Esta medida possibilitou ao Estado o controlo da sociedade, pois, na ausência de emoções, não há conflitos, desordens, desacordos e, portanto, não há guerras!
Este filme pode ser analisado à luz de várias temáticas abordadas no 10º ano na disciplina de Filosofia:
          A temática da acção humana: Se, através de uma droga se eliminavam as emoções, até que ponto é que os actos praticados eram realmente acções humanas (caracterizadas pela autonomia, consciência e responsabilidade)?
           A temática dos valores: Que valores predominam numa sociedade em que se pretende aniquilar a capacidade de sentir?
          A temática ético-política: Por que razão necessitamos de um Estado? Será que o homem é o lobo do homem, como dizia Hobbes? Até que ponto é que um Estado poderá aplicar a sua força para aniquilar os males que existem no mundo? Quais os limites do poder do Estado sobre os indivíduos de uma sociedade? Será legítimo desobedecer ao poder do Estado? Se sim, em que circunstâncias?
           A temática da estética e a temática do sentido da existência humana: Até que ponto é que a experiência estética é uma experiência importante para o ser humano? Terá razão a personagem que afirma que, sem a capacidade de sentir, “a respiração é só um relógio a passar”?

14/04/2010

O problema da justificação do Estado

Por que razão devemos obedecer ao Estado?
Vejam aqui as respostas de Hobbes e Locke para esta questão:
https://docs.google.com/fileview?id=0B7yHPIYu4ZPTOGFjNjFiOTYtMjZlMi00MzM3LTg1NDctYjFlY2VjNDIyOTFh&hl=pt_PT

A sociabilidade insociável do ser humano - como resolver este paradoxo?

«O homem tem uma inclinação para entrar em sociedade, porque em semelhante estado se sente mais como homem, isto é, sente o desenvolvimento das suas disposições naturais. Mas tem também uma grande tendência para se isolar, porque tem em si, ao mesmo tempo, a propriedade insocial de querer dispor de tudo a seu gosto e, por conseguinte, espera resistência de todos os lados, tal como sabe por si mesmo que, da sua parte, sente inclinação para exercitar resistência contra os outros. Ora, é esta resistência que ele não pode suportar, mas de que também não pode prescindir, que desperta todas as forças do homem e o induz a vencer a inclinação para a preguiça e, movido pela ânsia das honras, do poder ou da posse.
                                     Kant, “Ideia de uma história universal com um propósito cosmopolita”
in Paz perpétua e outros opúsculos, Lisboa, Edições 70.

16/03/2010

Problemas com a transferência do ficheiro sobre Stuart Mill e Kant

Caros alunos, o ficheiro com o powerpoint funciona, mas têm que aguardar que carregue ou então têm que fazer o download do mesmo.
Bom estudo!

Em que reside o valor moral das acções para Kant?

«O valor moral da acção não reside, portanto, no efeito que dela se espera; também não reside em qualquer princípio da acção que precise de pedir o seu móbil a este efeito esperado. Pois todos estes efeitos (a amenidade da nossa situação, e mesmo o fomento da felicidade alheia) podiam também ser alcançados por outras causas, e não se precisava portanto para tal da vontade de um ser racional, na qual vontade, -e só nela -se pode encontrar o bem supremo e incondicionado. Por conseguinte, nada senão a representação da lei em si mesma, que em verdade só no ser racional se realiza, enquanto é ela, e não o esperado efeito, que determina a vontade, pode constituir o bem excelente a que chamamos moral, o qual se encontra já presente na própria pessoa que age segundo esta lei, mas não se deve esperar somente do efeito da acção.»
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Lisboa, Edições 70, pp. 31.

A diferença entre imperativos hipotéticos e imperativo categórico

«Grande parte da nossa conduta é governada por «deveres». O padrão é: temos um determinado desejo (ser jogadores de xadrez melhores, ir para a faculdade de Direito); reconhecemos que um certo percurso nos ajudará a obter o que desejamos (estudar os jogos de Kasparov, fazer a inscrição para os exames de acesso); e por isso concluímos que devemos seguir o plano indicado. Kant chamou a isto «imperativos hipotéticos» porque nos dizem o que fazer desde que tenhamos os desejos relevantes. Uma pessoa que não quisesse melhorar o seu jogo de xadrez não teria qualquer razão para estudar os jogos de Kasparov; alguém que não quisesse ir para a faculdade de Direito não teria qualquer razão para fazer os exames de admissão. Uma vez que a força de obrigatoriedade do «dever» depende de termos ou não o desejo relevante, podemos escapar à sua força renunciando simplesmente ao desejo. Assim, se deixarmos de querer ir para a faculdade de Direito, podemos escapar à obrigação de fazer o exame.
Pelo contrário, as obrigações morais não dependem de desejos específicos que possamos ter. A forma de uma obrigação moral não é «Se queremos isto ou aquilo, então devemos fazer isto e aquilo». Os requisitos morais são, ao invés, categ6ricos: têm a forma, «Deves fazer isto e aquilo, sem mais». A regra moral não é, por exemplo, que devemos ajudar as pessoas se nos importamos com elas ou se temos outro objectivo que possamos alcançar ao auxiliá-las. A regra é, pelo contrário, que devemos ser prestáveis para as pessoas independentemente dos nossos desejos e necessidades particulares. É por isso que, ao contrário dos «deveres» hipotéticos, não se pode evitar as exigências morais dizendo, simplesmente, «mas isso não me interessa».
Os «deveres» hipotéticos são fáceis de entender. Exigem apenas que adoptemos os meios necessários para alcançar os fins que procuramos. Por outro lado, os «deveres» categóricos são misteriosos. Como podemos estar obrigados a comportar-nos de uma certa maneira independentemente dos fins que queremos atingir? (…) Kant defende que, assim como os «deveres» hipotéticos são possíveis porque temos desejos, os «deves» categóricos são possíveis porque temos razão. Os «deveres» categóricos são obrigatórios para os agentes racionais simplesmente porque são racionais. Como pode isto ser? Porque, afirma Kant, os deveres categóricos derivam de um princípio que todos os seres racionais têm de aceitar. Kant chama a este princípio «imperativo categórico». (…)

Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que se torne lei universal.

Este princípio resume um procedimento para decidir se um acto é moralmente permissível. Quando estamos a ponderar fazer uma determinada acção, temos de:
1º Perguntar que regra estaríamos a seguir se realizássemos essa acção. (Esta será a «máxima» do acto.)
2º Depois, temos de perguntar se estaríamos dispostos a que essa regra fosse seguida por todos e em todas as situações. (Isso transformá-la-ia numa «lei universal», no sentido relevante.) A ser assim, a regra pode ser seguida, e o acto é permissível. No entanto, se não queremos que todas as pessoas obedeçam à regra, então não podemos seguir a regra, e o acto é moralmente proibido.

Kant dá vários exemplos para explicar como isto funciona. Suponhamos, diz Kant, que um homem precisa de pedir dinheiro emprestado, e sabe que ninguém lho emprestará a menos que prometa devolvê-lo. Mas ele sabe igualmente que será incapaz de o devolver. Enfrenta, pois, este problema: deverá prometer pagar a dívida, sabendo que não pode fazê-lo, de maneira a persuadir alguém a conceder-lhe o empréstimo? Se fizesse isso, a «máxima do acto» (a regra que estaria a seguir) seria: Sempre que precisares de um empréstimo, promete pagá-lo, independentemente de pensares ou não que podes de facto pagá-lo.
Vejamos; poderia esta regra tomar-se uma lei universal? É óbvio que não, porque se derrotaria a si,mesma. Uma vez transformada em prática universal, ninguém mais acreditaria em tais promessas, e por isso ninguém faria empréstimos. Nas palavras do próprio Kant, «ninguém acreditaria no que lhe fosse prometido, limitando-se a rir perante tal asserção por ser vão fingimento».
Outro dos exemplos de Kant tem que ver com o exercício da caridade. Imaginemos, diz Kant, que alguém recusa auxiliar os necessitados, dizendo para si: «Que tenho eu a ver com isso? Deixemos cada um ser feliz como os céus desejam, ou como cada um consegue por si. Nada tirarei nem invejarei ao próximo; mas não tenho qualquer desejo de contribuir para a sua riqueza ou para o seu auxílio quando disso tenha necessidade.» Trata-se, uma vez mais, de uma regra que não podemos querer ver transformada em lei universal. Pois algures, no futuro, esse próprio homem precisará da assistência dos outros, e não quererá que
os outros sejam indiferentes ao seu problema.»
J. Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Lisboa, Gradiva, pp. 176-179
(adaptado)

O que significa "ser pessoa"?

«Ora digo eu: - O homem e, de uma maneira geral, todo o ser racional, existe como fim em si mesmo, não só como meio para uso arbitrário desta ou daquela vontade. Pelo contrário, em todas as suas acções, tanto nas que se dirigem a ele mesmo, como nas que se dirigem a outros seres racionais, ele tem sempre de ser considerado simultaneamente como fim. Todos os objectos para que nos inclinamos têm somente um valor condicional, pois sem as inclinações e as necessidades, seriam desprovidos de valor. (…)
Os seres cuja existência depende, não em verdade da nossa vontade, mas da natureza, têm contudo, se são seres irracionais, apenas um valor relativo como meios e por isso se chamam coisas, ao passo que os seres racionais se chamam pessoas, porque a sua natureza os distingue já como fins em si mesmos, quer dizer, como algo que não pode ser empregado como simples meio (…).
O homem não é uma coisa: não é portanto um objecto que possa ser utilizado simplesmente como um meio, mas, pelo contrário, deve ser considerado sempre, em todas as suas acções como um fim em si mesmo.»
Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, p. 68

09/03/2010

Citação de Kant para reflectir...

"Duas coisas enchem a minha mente de espanto e respeito:
o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim." Kant


Kant e o conceito de boa vontade...para reflectir



Texto de Stuart Mill - está no manual, pág 206

Frases para reflectir...


"É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito." 
                                                                    Stuart Mill, Utilitarismo

A fundamentação da moral: utilitarismo de Stuart Mill e teoria deontológica de I. Kant


Clique aqui para fazer o download do ficheiro apresentado na aula:
https://docs.google.com/fileview?id=0B7yHPIYu4ZPTMzU2NDgxNzItMmMyYi00NzdjLWJiM2UtY2I3OWRkZGZkOWNj&hl=pt_PT

De que trata a ética ou a filosofia moral?


«Se há alguma área da filosofia que possa afirmar ser prática, é a filosofia moral ou ética. Esta aborda alguns dos assuntos mais delicados e controversos da vida. Mas, embora os filósofos se tenham preocupado em descobrir como devemos viver, a filosofia moral é mais uma tentativa de pensar de forma crítica acerca do correcto e do incorrecto, do bem e do mal, dos critérios para estabelecermos as diferenças entre as boas e as más acções.» 
Stephen Law (adaptado)

De que trata a ética? Imagens para reflectir...

The life of David Gayle - inocente ou culpado?


Ver trailer aqui:

Alguns comentários filosóficos sobre o filme (espreitar sobretudo o primeiro e depois, se acharem interessante, vejam os outros):

  1. http://cinefilosofia.com.sapo.pt/artigos/conteudo/DavidGale.htm
  2. http://cinefilosofia.com.sapo.pt/artigos/conteudo/oqueeuqueroserquandoforgrande.htm
  3. http://cinefilosofia.com.sapo.pt/artigos/conteudo/o%20que%20devemos%20ser%20qdo%20fil.htm

03/01/2010

Feliz 2010!

Caros alunos,
faço votos para que, neste ano de 2010 tenham muita saúde, paz, harmonia, boa disposição, crescimento pessoal e sucesso nos vossos projectos e desejos.
E tenham sempre em mente que é importante que a vida nos proporcione a concretização dos nossos desejos,
mas, como isso não depende totalmente de nós,
é ainda mais importante desenvolvermos a capacidade para aceitarmos aquilo que temos e sermos gratos por tudo o que de bom a vida nos vai oferecendo,
à medida que nos vamos esforçando para mudar e melhorar aquilo que consideramos necessário.
Tudo isto, de modo a podermos tornar-nos seres cada vez mais completos e plenos de sentido!