28/10/2009

Como é que a alegoria da caverna nos ajuda a perceber o que é a Filosofia?

 §  Apesar de não haver uma definição unívoca de filosofia, é possível encontrar pontos comuns nas definições avançadas pelos diversos filósofos e pensadores “O que é a Filosofia?”. 
Filosofar é:
- ser crítico em relação à realidade;
- ir para além das aparências;
- querer saber as respostas à questões fundamentais sobre a vida, sobre o ser humano;
- questionar o que habitualmente se aceita como normal, evidente, inquestionável.


§  A Alegoria da Caverna de Platão fornece-nos simultaneamente um retrato do modo como a filosofia actua em nós, e uma ideia sobre a sua própria visão filosófica do mundo.




Interior da caverna

 Interpretação literal: Trevas
 Interpretação metafórica: sombras, aparência, 
 ilusão – imitação da realidade
 Ignorância, inconsciência, opinião (doxa), preconceitos, crenças, ideias não fundamentadas, não sustentadas por argumentos
 Equivale ao senso comum
 Mundo da aparência, mundo sensível*

Exterior da caverna

Interpretação literal: Sol, luz, objectos reais
Interpretação metafórica:
Mundo real, da verdade, do conhecimento, da consciência.
Mundo inteligível*
 * Platão distinguia entre mundo sensível e mundo inteligível e defendia que, para alcançar o saber acerca da realidade não nos podíamos ficar por aquilo que os sentidos não dão. Sabendo que os sentidos nos enganam, ou que nos dão uma visão insuficiente da realidade, é preciso ir para além dos sentidos, é preciso usar a nossa razão, isto é, a parte inteligível, para aceder ao verdadeiro saber acerca do mundo.



Na Alegoria da Caverna, Platão descreve dois movimentos:

1º De dentro da caverna para fora da caverna
Este movimento pode ser entendido como o caminho da Filosofia, a busca do saber, em que se usa a crítica, a reflexão como meios para atingir o saber acerca das coisas. Tal como é exemplificado por Platão nos seus diálogos socráticos, essa crítica e reflexão podem ser fomentadas pelo método socrático, cujo objectivo principal é conduzindo-nos ao reconhecimento da própria ignorância. A partir de sequências de pergunta-resposta, tenta mostrar-se aos interlocutores que os valores em que eles baseiam a sua vida estão cheios de problemas, incoerências e contradições. De acordo com Platão, só depois, dessa primeira fase de destruição dos preconceitos é que estaremos prontos para partir para a investigação acerca dos vários problemas filosóficos.
2º Regresso ao interior da caverna
Uma vez adquirida a consciência sobre determinados aspectos da realidade, é impossível voltar atrás, é impossível voltar à inconsciência. No entanto, é pensável o regresso ao mundo da aparência e da ilusão para libertar os que ainda estão mergulhados nela, para os conduzir à consciência acerca das coisas. Podemos dizer que essa é a tarefa dos professores, dos educadores, cujas práticas têm como principal objectivo conduzir os seus alunos à reflexão e à crítica. Conforme é retratado no texto da alegoria da caverna, aquando do regresso do ex-prisioneiro, esses pedagogos têm, no entanto, de defrontar-se com várias dificuldades, que se caracterizam por uma enorme resistência aos ensinamentos e à mudança que lhes é anunciada. Isto sucede, porque o ser humano, muitas vezes, prefere viver iludido com uma realidade, que sente como segura, a esforçar-se em busca de um pensamento mais autónomo, mais consciente, mais livre.

Da alegoria da caverna podemos extrair a seguinte lição:
Existem duas alternativas possíveis ao ser humano:
Primeira: A escolha de uma vida inconsciente, que se baseia apenas na mera luta pela sobrevivência e na valorização das necessidades materiais, fazendo aquilo que a sociedade exige de nós.
Segunda: Ou a escolha de uma vida mais activa, mais livre, mais autónoma que não se contenta com a satisfação dos interesses imediatos, em que o esforço para investigar a verdadeira natureza das coisas é uma constante. Só esta alternativa de vida faz jus à célebre frase de Sócrates: “Uma vida não examinada não merece ser vivida.”- Porque tendo nós a capacidade de reflectir e de nos tornarmos mais conscientes, a decisão de não examinar a realidade e, portanto, não usufruir dessa capacidade é como que uma rejeição de uma das partes mais importantes da nossa vida e do nosso ser.

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