30/05/2010

A dupla dimensão da experiência religiosa


«Se ao abordarmos a experiência religiosa nos perguntarmos, por exemplo, o que é que experimenta um japonês, em viagem pela Europa, no interior de Portugal, face à religião cristã ali dominante, sem dúvida que teremos de enumerar muitas coisas. Verá um país marcado pelo Cristianismo: igrejas com torres que se destacam no conjunto das aldeias, mosteiros enormes, capelas, cemitérios cheios de cruzes [...]. Tropeçará com procissões e com pessoas que enfeitam os túmulos com flores, que acendem velas diante de estátuas e quadros; verá igualmente como as pessoas se reúnem nas igrejas em determinados dias. Ali encontrará homens que se distinguem dos restantes pelas vestes. Escutará leituras, orações e cânticos,  cheirará o perfume do incenso queimado. Numa palavra, perceberá a religião como algo que se pode ver, ouvir, ar e cheirar. A religião é uma realidade que se incarna em edifícios e objectos, na actuação individual e social bem como em manifestações de carácter artístico e cultural.
Contudo, esta descrição externa não é suficiente para compreender aquilo de que aqui se trata. Porque não é possível descobrir, de modo algum, essas actividades externas como manifestações religiosas sem ter em conta o sentimento interior que leva os homens a esse comportamento sem apreender, por sua vez, a motivação de tal actividade e a sua importância para as pessoas que as executam, ainda que isso só seja possível de uma maneira indirecta. A religião externamente perceptível é essencial para que se possa considerar como "expressão", "manifestação de algo mais”. Toda a actividade religiosa exterior é sustentada por uma determinada disposição interior. Assim, a religião tem uma dimensão externa objectiva, e outra, subjectiva e interior. Esta última representa uma atitude humana existencial, com a qual se afirma a relação e a dependência face a uma realidade divina supra-humana, supra-sensível e supramundana com todas as suas consequências para a própria vida.»
Josef Schmitz, Filosofia de Ia Religión, pp. 39-40

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